A certa altura de seu livro, História da Alimentação Brasileira, o sociólogo Camara Cascudo sentencia: “A raiz que alimentava o brasileiro é a mandioca ”. Nem seria preciso ouvir o grande mestre para chegar à mesma conclusão. Bastaria verificar os inúmeros pratos da culinária brasileira que têm por base essa raiz: manuês, bolos, mingaus, pudins e cremes. Todos eles deforte inspiração portuguesa, é verdade. Afinal, os índios não conheciam o forno, tampouco eram capazes de elaborações complexas, mas lhes cabe um mérito inalienável: terem tornado possível a culinária da mandioca. Foram eles que transmitiram aos portugueses os cuidados necessários para fazer a transmutação da mandioca: de raiz venenosa a ingrediente dadivoso. E mais, o fizeram em um momento histórico no qual as opções alimentares eram reduzidíssimas. Essa sabedoria, hoje largamente difundida, foi modicamente exportada para todos os países que, ao longo dos últimos cinco séculos, a adotaram. Indelevelmente presente em nosso dia-a-dia, a mandioca parece ter superado as momentos em que foi desprezada como alimento. Nas palavras de Camara Cascudo: “Fraca, incompleta, irregular; defeituosa, subalterna, inferior; com tantos títulos de libelo acusatórío, a mandioca, rainha do Brasil, continua inabalável no seu trono”.
MANDIOCA
Atualizado: 2 de fev. de 2020
